quinta-feira, 23 de outubro de 2008



[ Heterogeneidade] uma teoria sobre o urbanismo


O que caracteriza a sociedade de uma maneira geral é a diversidade, ou seja, a variedade de tipos de personalidade no ambiente. A mobilidade do indivíduo provoca uma maior instabilidade e insegurança na estrutura social.

Essa personalidade diferênciada que dita o agrupamento natural dos indivíduos, e esses, por sua vez, não agem isoladamente, e sim em grupo.

Esses grupos, de maneira geral, se tangenciam, e quando se interceptam, o fazem de maneira mais diversificada possível, proporcionando indivíduos de grupos menos favorecidos o poder de maiores interações.

A mobilidade dentro do grupo é instável devido a sua organização que se estabelece de acordo com determinadas afinidades, uma vez que no meio urbano o que os mantêm agrupados é a renda, raça, língua e status social (alguns não muito estáveis).

Essa mobilidade social não proporciona ao indivíduo um vínculo permanente com o local como na sociedade rural. Sua fixação é muito mais influênciada pela conveniência de facilidade e praticidade que o lugar proporciona do que na verdade vínculos afetivos.

A sociedade classificada principalmente pela econômia e desenvolvimento gerou, em grande parte, um mercado impessoal – a produção em massa, e, conseqüentemente, a maior divisão e setorização do trabalho. Em função dessa econômia, os laços de agrupamento se estreitam cada vez mais e a aquisição de bens se torna a característica mais analisada na setorização social.

Diante de tanta diversidade, o uso dos veículos de informações comuns dos grupos – como escolas, cinemas, jornais, rádios – passa a ser estabelecido como uma média para que assim possam ser ajustados em função das necessidades coletivas devido sua clientela ser representada em sua maioria pelas massas, atuando, assim, como atividade niveladora.

Usando esses mesmos veículos o processo político atinge as massas por meio de apelos promocionais de propagandas. São os “apelos às massas”.

O cidadão que participa, de alguma forma, desses movimentos sociais, acaba perdendo um pouco sua individualidade para formar com esse grupo maior um pensamento prioritariamente coletivo.


Foto: Porto de Vitória. 2008/10/23. Janaína Schmidel.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008


[Ai Se Sesse] Zé da Luz

Se um dia nós se gosta-se
Se um dia nós se quere-se
Se nós dois se emparea-se
Se jutim nós dois vive-se
Se jutim nós dois mora-se
Se jutim nós dois drumi-se
Se jutim nós dois morre-se
Se pro céu nós assubi-se
Mas porém se acontece-se de São Pedro não abri-se
A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arrimina-se
E tu com eu insinti-se
Prá que eu me arresouve-se
E a minha faca puxa-se
E o bucho do céu fura-se
Távez que nós dois fica-se
Távez que nós dois cai-se
E o céu furado arria-se
E as virgem todas fugir-se


Bateu um saudosismo tão gostoso hoje de tudo que vivi em Recife/Olinda...

- de sentir um vento diferente desarrumando os cabelos.

- de um cheiro bom da Casa de Noca com aquela macaxeira, carne de sol com manteiga de garrafa.

- de um blues, numa voz roca.

- do 'Burburinho'.

- de água tão azul que chega a doer os olhos.

- de ruas e prédios que contam uma história tão familiar.

- de paralelepipedos.

- dos trilhos do antigo bonde.

- do cais do porto.

- do pernambucano...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008





com uma flor...

[ Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.

E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor. ] Vinicíus de Moraes.

Eu que fiz! Ando tão prendada ultimamente! Mentira. Na verdade é minha terapia, já que não posso ir nadar!!!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008


Rafael França de Almeida. 8 anos.

[ Love In The Afternoom] Legião Urbana

É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser, quando me lembro de você
Que acabou indo embora, cedo demais
Quando eu lhe dizia, me apaixono todo dia
É sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse: eu gosto de você também
Só que você foi embora cedo demais
Eu continuo aqui
Meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você
Dias assim, dias de chuva, dia de sol
E o que sinto não sei dizer
Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade, até a próxima vez.
É tão estranho
Os bons morrem antes
E lembro de você e de tanta gente que se foi cedo demais
E cedo demais,eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer
Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mas eu sei
Que você está bem agora
Só que neste ano eu sei que o verão acabou
Cedo demais


Há muito tempo não consigo escutar Legião Urbana. Saudades de um tempo, de pessoas...
Homenagem ao grande amigo que se foi cedo demais
!