domingo, 21 de setembro de 2008


"O MAIOR DESEJO DA BOCA É O BEIJO". FOTO REMANESCENTE DAS UNHAS VERMELHAS DE NITERÓI...


[ Ensaio sobre o Arrependimento ]

Arrepender-se é enganar a si mesmo. Você entendeu, eu vou falar mal do arrependimento, mas a crítica desta vez não seguirá nenhum dos motivos que você conhece e que provavelmente tenha escutado exaustivamente por toda a ida, portanto não se vá tão prontamente, por favor me conceda a atenção por ais alguns parágrafos.


Por que alguém se arrepende?


Esmalte, por exemplo, pode ser um objeto de arrependimento.


- Droga, eu não devia ter pintado a unha de vermelho justo nessa semana que em almoço na cada dos pais do...


Veja bem, a moça acima se toma por alguém racional o suficiente para não ceder à cor quente em função do bom convívio social. O caso é que ela não é racional o suficiente. Outra pessoa poderia ter ido ao mesmo cabeleireiro e pintado às unhas de cor insípida. Mas esta não, a nossa personagem escolheu o vermelho, ela estava ali, numa situação real, com acesso a toda informação existente, e no momento crucial da pergunta:

- O que vai ser hoje, Dona?


Ela respondeu.

- Vermelho, por favor. Aquele ali do cantinho.


Simples assim? Simples assim! Está arrependido por ter escolhido uma profissão pelos motivos errados? Talvez você não seja tão esperto assim como imagina. Acha que casou com um homem desinteressante? Então comece a se perguntar por que foi que você demorou tanto tempo para notar este detalhe.

- Mas, todos nós, seres humanos, cometemos erros na vida.


Sim, e ainda bem, já imaginou a chatice do contrário? Nós agimos de acordo com o que somos, pensamos, sentimos, acreditamos, sabemos, as nossas ações são o melhor reflexo de nós mesmos. Daí espera-se que à medida que o tempo passa todos os acertos, erros, e segundos a mais de vida nos modifiquem. Agora, me conta onde entra o arrependimento nesta história? Se você fez alguma coisa antes que não repetiria agora, ótimo, você mudou. Parabéns. Então faça diferente desta vez. Vai lá, faz melhor. Que sentido faz se arrepender? Admita você era pior antes, felicite-se, você poderia estar pior agora. Pegue todas as discordâncias entre o seu “eu - passado” e o seu “eu – presente” e faça diferente.


Não se vá ainda, eu guardei a melhor parte para o final.

O caso é que ninguém quer fazer diferente. Eu, por exemplo, tenho plena consciência da inutilidade das palavras “faça diferente” e ainda assim as escrevo em destaque. Talvez porque gostaria de ser utilitarista e gastar meu tempo produzindo resultados, mas eu não sou. Eu sou dispersa, distraída, um pouco mimada, e gosto de fazer as coisas sem o mais absoluto motivo. Quanto mais inútil, melhor. E assim se passa com o arrependido, ele não mudou, ele não faria diferente se pudesse, porque pode, e não faz. O arrependido gosta de imaginar ser uma pessoa melhor, mais racional, mais esperta, mais caridosa, mas não o é, nem tem intenção de sê-lo. A ilusão o faz sentir-se melhor consigo mesmo. Por isso o arrependido inventa desculpas, diz ser tarde. O arrependimento é um auto-consolo.


- Se eu pudesse voltar no tempo...


Como sabemos que voltar no tempo, ainda, não é possível. A pessoa imediatamente está livre de assumir responsabilidade pelos seus atos. Porque afinal, ela faria diferente, certo? Errado. Mas fique tranqüilo, eu não estou aqui para estragar o seu final de semana, você tem toda a liberdade do mundo para arrepender-se e enganar a si mesmo, mas faça a gentileza de fazer isso bem baixinho, sim?

sábado, 20 de setembro de 2008


JULHO/2007. BH. AVENIDA AFONSO PENA

Nós, que conhecíamos tão bem um ao outro, somos hoje perfeitos estranhos. Horas poderiam ser gastas falando sobre tudo que nos aconteceu, e não bastaria. Eu poderia tecer metáforas, digressões e teorias, e ainda assim não seria suficiente. Estamos a léguas de distância um do outro - e, paradoxalmente, há poucos minutos.
Tanto tempo eu precisei para entender o que você me disse naquele dia. Foi preciso ir tão longe para entender teu olhar, naquela tarde, quando retruquei com uma verdade em forma de piada. Tua resposta veio nos olhos, tão contraditória que simplesmente não entendi. Somente quando um outro alguém me disse o mesmo, pude perceber como passei longe da tua verdade naquele momento, e como devo ter te ofendido com a tal piada.
Cheguei ao mesmo ponto que você, e não queria estar aqui. Preferiria um mundo menos cinza, menos irônico e auto-defensivo. Só que não é uma questão de escolha. Nunca foi.
Hoje, caminhamos na mesma direção, solitários. Juntos, mas afastados. Não poderia ser de outro modo. Jamais seria. E penso em estender-te a mão de vez em quando, mas é impossível. Sou como você, agora. Mesmo caminho. Estradas diversas. Adeus, ou até qualquer dia.

Escrito no inicio de agosto/2008. Resolvi publicar agora mais para explicar o conceito desta nova categoria que me encontro. Chamava-se Fugas, e é lugar para ficção. Não é para ser levado a sério. Não é a minha vida. É exercício literário, ponto. Mudei o nome para Crônicas numa tentativa de deixar isso mais claro.

Obviamente, no entanto, nenhum texto nasce do nada.

É preciso, sobretudo, dar tempo ao tempo.

Amizades não se constroem da noite para o dia.

sábado, 13 de setembro de 2008


[ Montagem antiga de momentos mais antigos ainda...]

Como Nossos Pais [ Composição: Belchior; mas na voz da Elis Regina ]
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...

Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

[ É que eu estou assitindo o meu programa favorito de entrervista - Jô Soares. E Belchior abriu o bloco cantando, e fez um sentido insuportável essa melodia... ]

terça-feira, 9 de setembro de 2008

[Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.

E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.

E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração. Fácil é ver o que queremos enxergar.

Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.

Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus".

Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.

Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente.

Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois.

Amar e se entregar.

E aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência.

Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.

Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta.

Ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma.

Sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na agenda telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém.

Saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata. ] Carlos Drummond de Andrade

Adoro ganhar livros, principalmente quando eles possuem este tipo de sabedoria. E ainda há quem ignore o real significado de simples gestos ... E assim estão fardados a carregar um peso nas costas, aquele peso, o pior dos pesos: a conciência tem de estar sempre de regime!
"Esse teu amor não vale nada
E esse meu despreso, acho que não tem mais fim
Resolvi que tenho a vida inteira
Pra sentir de perto, essa tua ausência em mim

Que faz aqui?
Já não te falei?
Você vem de longe e diz: Eu voltei
Não, não faz assim
Sei do teu desejo mas, vem me dar um beijo em paz seguir
Tão perto, por onde for, tão certo

Esse filme já não faz sentido
Palmas para ele, não suporto mais seu fim
Lembra aquela cena na varanda?
Você de partida, nem se quer saber de mim

Que faz aqui? já não te falei?
Você vem de longe e diz: Eu voltei!
Não, não faz assim.
Sei do teu desejo mas, vem me dar um beijo em paz seguir
Tão perto, por onde for, tão certo"

achado num perfil alheio ... mas fez todo um sentido colocando as pessoas certas nas história!!!